Uma adolescente complexada
- Iza de Macedo
- Jul 23, 2021
- 2 min read
Fui uma adolescente complexada.
Depois de alguns anos praticando ginástica olímpica (artística), fiquei com o corpo um pouco 'masculinizado', forte, musculoso, flexível.
Ao entrar na puberdade, os meninos começaram a tirar sarro do meu corpo forte e foi assim que eu comecei a me olhar no espelho: buscando os defeitos que estavam colocando.
Eu ainda não tinha seios. Minha barriga tinha gominhos. Meus ombros estavam mais largos. Meus quadris eram finos. E a imensa alegria que eu sentia na prática diária da arte corporal que é a ginástica artística foi se perdendo com o medo de decepcionar tantos olhares.
Eu ainda tinha 11 anos e a visão que eu tinha era de que eu seria uma mulher feia. Errada. E foi por isso que larguei a ginástica.
Mas ao interromper as 4 horas diárias de exercícios intensos ao mesmo tempo que entrava na puberdade, com os hormônios aflorando, eu engordei um pouco. Comecei a ter um pouco de quadril, os seios começaram a crescer. Mas começaram a me falar que eu estava ficando gordinha. Comecei a ficar com vergonha do meu corpo gordinho.
Por mais de 10 anos não usei biquíni na frente de ninguém. E sempre coberta, perdi o prazer de ir a praia com outras pessoas. Passei a detestar piscina. E até hoje não sinto prazer em desfilar de biquíni em praias e clubes.
Uma infância e uma adolescência aprendendo que eu tinha o corpo errado. Muito forte. Depois acima do peso. Curvas demais.
Com 19 anos emagreci quase 10 quilos. Passei a pesar 46 quilos com uma aparência um pouco doentia. E mesmo assim, via gorduras que era obscenas. Imperdoáveis. E não me expunha em roupas de banho.
Hoje estou com 30 anos. Passei por uma gestação saudável. Tenho um peso ideal. E ainda assim, não gosto de piscina e nem me sinto à vontade de biquíni nem na frente do meu marido.
Não sou mais complexada. Enxergo beleza em mim quando olho no espelho. Gosto do meu cabelo, do meu rosto e minhas olheiras não me incomodam mais. Fiz as pazes comigo.
Mas algumas cicatrizes permanecem. De um estereótipo que talvez eu não atenda jamais.
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